Meu progenitor




Minha historia com o mundo não existiu até passado o ano 95, nasci em 1989, mas a vida não era vida até que pude ter consciência de muitas coisas erradas que me rodeavam, sempre fomos pobres coisa que não interferiu no amor e carinho que tive por parte de mãe, de pai me lembro de poucos momentos agradáveis e os que lembro são ocultados pelos ruins.
Minha família de tradição Apostólica Romana não praticante me batizou como cada criança nascida naquele país cujo sem perguntar te dão uma religião basada na discriminação e engano, sem importar a opinião das pessoas quando essas forem adultos, menos mal que não eram praticantes senão estaria perdido.
Meu pai muito trabalhador, disso nenhuma dúvida, e de coração bom e humilde, creio que com um pouco mais de instrução haveria sido um grande homem, um sábio e defensor das verdades mais variadas e distintas. Comigo sempre foi mais duro que o normal, fazia coisas ou dizia coisas que realmente me faziam mal, creio que não querendo, não o vejo capaz, mas por influência de familiares que sempre criticavam qualquer diferença entre qualquer coisa, desde o futebol até as religiões. Meu pai com afã de não sofrer essas “perseguições” familiares sempre tentava mudar minha forma de ser e ver o mundo.
Aos 6 anos de idade, não via maldade alguma no mundo que me rodeava, não sabia nada de injustiças nem crueldades e tinha medo do escuro, sim como toda criança assustadiça. Isso não vem ao caso nem faz parte alguma da minha intempestiva narrativa pessoal, mas é algo que ficou bem pra variar o objetivo.
Aos 13 e com a adolescência latente e com ânsia de mudanças na vida e gula, realmente gula por aprender sempre mais e coisas novas, aprendi algo de informática só de olhar uma prima se movimentar no Windows 95, que lembranças. Minha família de cinco, que não tinha muitas condições de me dar melhor educação que a pública não podia fazer muito por me ajudar saber sempre mais, o que foi para mim uma pena.
Morávamos numa chácara dessas lindas entre cidade grande e cidade grande, que sempre são bonitas e bem cuidadas, a filha do dono, um anciano já muito velho pra se incomodar demais com o que a filha pré adolescente fazia, era realmente linda, loira de cabelos longos e cacheados com olhos verdes e um sorriso jamais visto igual, Ana Cristina, simples e linda. Nisso sim, me davam força, mãe e pai, ambos me diziam pra ser “amigo” dela, que me enviava cartas e cartas com versos lindos, meu pai engenhava formas de distrair a atenção dos pais dela para que pudéssemos estar mais um tempinho sem vigilância da mãe dela. Nos escrevíamos bilhetes e nos víamos em lugares apartados na própria chácara, sem sombra de dúvidas meu primeiro e eterno amor. Nunca esqueci seu sorriso tímido e sincero.
Depois disso nos mudamos e fomos morar com uma tia da minha mãe, meu pai por não fazer caso ao que dizia minha mãe, sempre fazia tudo ao revés nessa época, o trabalho era pouco para então e as dificuldades aumentavam, até que um dia, me lembro bem era aniversário do meu avô, minha mãe disse basta. E o expulsou de casa com todos seus pertences pessoais. Dai então começou o calvário de uma tormentosa separação, cada um pro seu lado mas com tanto sofrimento em todas as direções como sempre e em todas as separações que tenho conhecimento. Enfim, algum dia não sei ao certo qual, já nos havíamos mudado da casa dessa tia da minha mãe que também já havia falecido e morávamos nos fundos da casa da minha avó mãe da minha. Meu pai mesmo morando na mesma cidade, desapareceu ao menos dois anos, deixando sofrimento entre minhas irmãs e eu, saudade. Quando enfim apareceu eu já era tão independente e já não precisava de pai, desde então a figura paterna se reduziu muito chegando ao ponto de tocar a brecha que separa entre pai e progenitor. Ele já tinha outra família, três filhas de uma mulher que pouco gostava eu, e que eram pouco agraciadas. Uma família, sem mentir, na época antes de conhecer meu pai e melhorar, bastante miserável, tivemos boa relação até porque tínhamos que conservar a presença do pai que a ponto tivemos de perder. Não era fácil por mais que fazíamos por onde ser. Por fim tínhamos contato com a família paterna, que para então e para mim não tinha nenhum significado. Já nem conhecia algumas pessoas e se reduzia a três tias e três ou quatro primos, coisa que hoje em dia levando em consideração tempo e distância se reduziram aos primos mais velhos e com os que tive mais contato. Alguns mais novos não sei sequer o nome, e não minto em dizer que nem mesmo minha avó paterna me causa nenhum tipo de sentimento, é como se a figura de avó não existisse na minha cabeça. Diferente da avó materna que ao menos sinto ódio, e ressentimento coisa que contarei em outra publicação. Com o tempo e após virmos pra Europa, minha mãe já leva aqui pouco mais de dez anos, a figura do meu pai se reduziu ainda mais a alguém que me fez e que se casou com minha mãe. Agora ele já tem nova família, até tem outra filha, criança que sei que não tem “culpa” de nada, conceito que não entendo bem pois se ela não existia antes como é que se pode pensar que pode ter “culpa” de algo?
Essa filha, bastarda posto que meu progenitor segue casado com minha mãe, nem sei o nome, nem idade que tem, e não me importa. Sim, sou rancoroso, mas não me importa por ela e sim por meu progenitor. Alguns familiares me dizem que não se deve ser assim e que o rancor não leva a nenhum lugar só amarga o coração, outra coisa que não entendo pois quem guarda a memória é o cerebelo. Mas também penso que na verdadeira realidade não é rancor nem ressentimento pois não sinto nada, nada em absoluto. É apenas ausência, uma ausência que nunca poderá ser substituída por nada. Se tenho saudades de momentos com meu pai, tristemente tenho que dizer que não. Nenhuma saudade de nenhum momento e ao parar pra pensar nessa possibilidade os únicos que me vieram a memoria foram os momentos ruins, as discussões por minha sexualidade e meu orgulhoso desejo sexual por gêneros humanos agraciados com beleza genética do sexo oposto ao meu oposto, se entende? Menos mal que escrevo pra gente inteligente.
Enfim e já acabando só tenho a dizer que meu pai é meu pai, eu o amo, estranhamente o amo, sim é contraditório a todo o discurso da narrativa, e que? Algum problema? A humanidade é minha os problemas familiares são meus e pra dizer bem a verdade não to nem importando com o que dizem, agora, isso sim a filha dele não quero nem conhecer, ele e eu não temos relação desde o ano 1999 quando soube que ele não me queria ter filhos para não ter que se comprometer com ninguém, porque naquela época era assim, está grávida tem que se casar, justo o que aconteceu com meus progenitores. Pensando bastante bem e sendo mais humano ainda, só sinto falta de um abraço forte e de que me diga que me ama e me apoia na vida, difícil vida que tenho, imagino a dura vida que teve esse homem pra me alimentar. Acabei rindo de mim mesmo e meus devaneios.


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